terça-feira, 19 de junho de 2012

Estrutura viária piracicabana esqueceu da boa e velha bicicleta


A bicicleta é atualmente uma ‘conhecida’, mas ainda não uma ‘amiga’ do tráfego de Piracicaba, que oficialmente oferece 4 km de ciclovias, somando-se os trechos da Avenida Cruzeiro do Sul e a Avenida Rui Teixeira Mendes, numa malha viária formada por 1.644 km de asfalto e 831 km de vias de paralelepípedo ou de terra. O total destinado ao ciclista é pequeno e para quem enfrenta as ruas sobre duas rodas, a infraestrutura e a segurança estão longe do ideal, o que deixa as bikes na contramão do trânsito piracicabano.

Ricardo Simons, um dos militantes em favor do uso de bicicletas, afirma que o piracicabano adotou a magrela, o que pode ser comprovado pelo aumento de pessoas pedalando em trilhas e estradas, mas o mesmo não ocorre nas ruas e avenidas. “Não se observa o mesmo na rua por falta de estrutura física e de segurança. Não há estrutura física que absorva o ciclista com segurança no tráfego de Piracicaba e não há fiscalização policial que iniba o furto de bicicletas. Resumindo: andar de bicicleta pelas ruas de Piracicaba é uma aventura bem arriscada”, diz ele.

Essa aventura em números significa que em 11 anos (2000 a 2011) a frota de veículos automotores da cidade cresceu 73,02% enquanto a população 14,34%. Com tantos carros circulando nas ruas e sem ações contínuas que estimulem o uso de transporte coletivo e outros meios de locomoção, as bicicletas não encontram espaço e muito menos respeitos dos condutores.

O município conta com um Plano Diretor de Mobilidade desde 2006, além de um traçado de Plano Cicloviário, que foi elaborado pelo Ipplap (Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba), porém o traçado ainda não saiu do papel. 
Simons afirma que as bicivletas são importantes porque oferecem uma alternativa de transporte e locomoção de baixo custo, não poluente e de fácil acesso. Para ele, um bom plano cicloviário deve integrar pontos geográficos estratégicos da cidade e suas principais vias. Além disso, deve dispor de locais de estacionamento, onde se pode guardar a bicicleta com segurança.
A publicitária Mirian Rother, 50, aproveitou a paixão pela magrela para desenvolver um estudo científico sobre a bicicleta e a cultura de mobilidade urbana em Piracicaba. Ela é aluna do Programa de Pós-Graduação Interunidades do Cena/Esalq (Centro de Energia Nuclear na Agricultura e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz).


A proposta da pesquisadora é desenvolver um quadro referencial para avaliar as possibilidades de desenvolvimento e da implementação de um plano cicloviário em Piracicaba, levando-se em conta seu impacto cultural, socioeconômico e ambiental.
“Pretende-se desenvolver a pesquisa por meio de entrevistas com usuários de bicicleta (500) e do diálogo (grupos focais) com os atores que protagonizam a questão (gestores públicos, ambientalistas, usuários de carros e ônibus, etc), que permitam verificar quais as principais dificuldades, resistências, alternativas e soluções por eles apontadas”, informa ela.
Miriam quer entender em que medida uma estrutura cicloviária na cidade pode funcionar como um elemento reestruturador da cultura local, influenciando nos hábitos de consumo e uso de transporte individual e promovendo a mobilidade urbana mais sustentável.
“Há ainda a expectativa de que a metodologia e a análise de dados desta pesquisa possam vir contribuir para o aprimoramento do Plano Diretor de Mobilidade da cidade (2006), pela verificação das possibilidades de integração da bicicleta, como modal de transporte, bem como nortear as administrações públicas de outras cidades na busca de soluções sustentáveis para a mobilidade urbana”, destacou Mirian.
A publicitária conta que usa a bicicleta em trajetos de até 5 km, que podem ser percorridos entre 15 e 30 minutos e não exigem tanto preparo físico. Ela afirma que a maior dificuldade é compartilhar a rua com carros, motos, ônibus e demais veículos. “Faltam educação, informação e sinalização. A pavimentação das ruas é muito ruim, o trânsito é intenso, enfim tudo é meio complicado. Inclusive os próprios ciclistas são mal informados: trafegam na contramão por acharem mais seguro, não usam nenhum equipamento de segurança e se arriscam. Porém, sendo mais frágeis, arriscam apenas a própria vida. Nunca fui atropelada, mas confesso que ando com muito medo que isso aconteça comigo, a exemplo de amigos que já foram”, disse ela.
Miriam é cicloativista em Piracicaba porque percebeu a dificuldade em usar a bike como meio de transporte na cidade. Em 2011, ela promoveu o 1º Encontro Ciclofaixas Piracicaba, que recebeu cicloativistas de São Paulo, que vieram pedalando para a cidade. No mesmo ano, ela participou da 1ª Semana de Mobilidade de Piracicaba, promovida por diferentes organizações da cidade.
A redação do Blog Piracicaba Sustentável enviou algumas perguntas ao Centro de Comunicação Social da Prefeitura de Piracicaba no dia 25 de maio. A ideia era saber sobre os projetos da Administração em relação ao uso de bicicletas no transporte, mas até o fechamento desta matéria em 18 de junho, não havia recebido a respostas do órgão responsável. 

Um comentário:

  1. As ciclovias existentes não servem para locomoção, apenas para uso como lazer. São vias que vão do nada a lugar nenhum. Não é isso (ou apenas isso) que precisamos. É necessário que o poder público olhe as ciclovias como meio de locomoção dos cidadãos, barato, eficiente, saudável e ecológico.

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